O nosso topônimo
Esta é uma interrogação que a nós mesmos temos feito, inúmeras vezes, e, por mais que pesquizemos, não encontramos até hoje resposta que nos satisfaça.
Como se verá em outro lugar desta monografia, as terras que hoje compreendem os lindes da nossa vila, pertenceram outrora à sesmaria conferida à Francisco Pinto Bandeira, pai de Rafael, o grande fronteiro.
Por sucessão, passaram à propriedade deste e, posteriormente, à sua viúva, casada em segundas núpcias com o desembargador Bragança. Daí o ser conhecido até hoje a parte da estrada que assinala a divisa São Leopoldo-Canoas como a Volta da Brigadeira.
Mas, e Esteio? Pois bem, a nossa vila compreende a fazenda adquirida à sucessão Serafim Pereira de Vargas, sendo que este foi seu proprietário e aqui viveu longa existência, tendo falecido em 20 de julho de 1916.
Residência do Cel. José Pereira de Vargas Firmo. |
Serafim de Vargas, adquirindo frações de campo a vários proprietários, constituiu a fazenda que compreendia para mais de quinze milhões de metros quadrados; povoou-a com um número de rezes vacuns que ultrapassava a mais de dois mil, isto sem contar as espécies cavalares e suínas. Sua residência, a velha casa solarenga, substituiu até bem pouco tempo, sendo demolida para dar lugar a uma nova construção, a residência do Sr. Pedro Schuck, atual proprietário de uma parte da velha fazenda.
E foi nessa casa que viveu o então coronel Serafim Pereira de Vargas, que foi homem de grande influência, acatado e respeitado chefe político conservador, cuja figura é ainda nos dias de hoje relembrando com veneração pelos que com ele privaram e sobrevivem de um tempo que se vai perdendo nas brumas de um passado longínquo.
Em Sapucaia vive seu único filho, o coronel João Pereira de Vargas Firmo, de quem colhemos algumas informações interessantes para reconstituir a vida do Esteio.
Foram donos destas terras, precedendo o coronel Serafim, Tomé Luiz de Vargas, Manoel José da Silveira (Maneca Serafim), Firmino José Gomes, e outros cujos nomes escapam à memória do nosso informante.
A fazenda assim constituída tinha por limites, ao N. com terras de Manoel José da Silveira, ao S. pelo arroio Sapucaia, a L. com Felisbino Nunes Mesquita, e a O. com o Rio dos Sinos. Povoada, como dissemos, três rodeios eram parados periodicamente, o que atesta a excelência das pastagens das terras hoje cortadas pelas ruas e avenidas da vila.
Em 1873 foi traçada, como sabemos, a Estrada de Ferro Pôrto Alegre – Novo Hamburgo e esse traçado cortou a fazenda em toda a sua extensão. E a propósito, contou-nos o coronel Janjão, um episódio que bem interessante é, que se enquadra neste retrospecto que fazemos ao passado do Esteio.
Casa de residência do Sr. Pedro C. Schuck, construida em Dezembro 1943. |
Quando consultado sobre a passagem da estrada sobre suas terras, o coronel Serafim de Vargas, contrastando com a resolução de outros proprietários, declinou de qualquer indenização a que tinha direito, exigindo apenas que a companhia que exploraria a estrada mantivesse duas cancelas, às suas expensas, afim de facilitar o bebedouro do gado. Assim foi assentado; entretanto estabelecido o corredor, a companhia mandou a chave das citadas cancelas para que o dono da fazenda mantivesse um empregado efetivo para dar passagem aos trens; com essa arbitrária resolução não teve de acordo o coronel Serafim que, por intermédio de um advogado, propôs uma ação contra a companhia.
A demanda durou alguns anos, sendo, afinal, decidida no então Tribunal de Relações, com ganho de causa para o coronel Serafim. Era desembargador na época, o dr. Paulinho Chaves, conhecido magistrado que, sem heresia lembramos, tinha o apelido de Papa Perú.
Outro episódio interessante, nessa movimentada questão, é que o advogado da companhia era o dr. Ramiro Barcelos que, chefe conservador, tinha Serafim Pereira de Vargas um ardoroso correligionário...
E esse fato fez com que o dr. Barcelos incorresse em acre censura de sua esposa, apaixonada pela política de seu marido, que lhe dirigiu certa vez, diante de extranhos, a seguinte interrogação: - “Doutor (assim ela sempre se dirigia a seu esposo), si tu não aceitasse essa causa nós morreríamos de fome?”
Fazenda do Esteio - O velho solar do Cel. Serafim Pereira de Vargas - 1934. |
É tempo de chegarmos a termo, Esteio, a nosso ver, teve o seu nome de batismo com a vinda da Estada de Ferro. No local onde assenta a atual estação, local situado entre as duas pontes atuais, deve ter existido, forçosamente, um esteio, talvez um lugar de marcação de animais, e por isso esse local chamava-se Esteio. Com a estrada de ferro, ali foi estabelecida uma parada – a parada do Esteio, como todos nós estamos lembrados. E Esteio ficou para a vila de hoje, a cuja elevação de categoria estamos celebrando, honrosa conquista alcançada pelo trabalho profícuo de uma inteira população.
A casa da Velha Fazenda, já modificada pelo seu atual proprietário, Sr. Pedro C. Schuck - 1944. |
(Extraído da “Monografia da Vila Esteio” – Editada em 14 de março de 1944 – por José Thomaz Perez)
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