sábado, 20 de agosto de 2011

"Vilamento de Esteio" - Monografia da Vila Esteio - 1944


A NOSSA RAZÃO DE SER

Quando, pouco tempo faz, visitei a florescente localidade que é Esteio, constatei, “de visu”, o grau de progresso a que atingiu essa nova vila em tão curto tempo de sua existência. Nessa ocasião, agitava-se o seu adiantado meio industrial com a exposição que pretendia fazer-se e foi levada a efeito com tão brilhante êxito.

Propuz-me, então, publicar uma monografia que apresentasse a Vila do Esteio no movimento dos seus variados setores de atividade. Exposta a idéia ao seu sub-prefeito e, em seguida, ao ilustre prefeito do município, sr. Coronel Theodomiro Pôrto da Fonseca, tanto este como o sr. Jorge de Souza Morais, receberam a idéia com animado louvor, pois, com a elevação de Esteio à categoria de vila, seria esta monografia uma perene recordação para as gerações vindouras.
Documento do escritor Manuelito de Ornellas
Entretanto, um nome se impunha para figurar neste trabalho, o do dr. Eduardo Duarte, médico de localidade e conhecido historiados patrício, agora recolhido ao “otium cum dignitate”, após longa existência consagrada às letras históricas.

O dr. Eduardo Duarte prontificou-se à colaboração e, graças ao seu eficiente trabalho, entregamos hoje esta monografia à nossa terra e nossa gente.

Sem pretender preencher uma lacuna, esperamos, entretanto, receber do povo de Esteio a consideração que merece um trabalho que durante dois ou três meses ocupou nossa atividade.


Porto Alegre, 15 de março de 1944.
José Thomaz Perez.



O Vilamento de Esteio

O conselho Regional de Geografia, em sua reunião quinzenal, elevou à categoria de vila, a móvel povoação de Esteio.

Foi um ato de justiça alcançado pela nossa laboriosa população e que se impunha, pois o grau de progresso a que atingiu Esteio, nestes últimos tempos, e verdadeiramente assombroso. De uma fazenda que era, fartamente povoada de gado vacum, onde mais de um rodeio era parado periodicamente, nesta extensão de terras que lindava com o município de Gravataí e que alcançava as margens do sinuoso Rio dos Sinos, o Itapuí das gerações avoengas, a povoação teve seu início pelos anos de 1935, quando transcorria a celebração do centenário farroupilha, pois data desse ano a instalação in loco das primeiras famílias.


Mapa da Vila Esteio, em 1944.

Daí para cá, num crescendo contínuo, foi se povoando, e tempos houve que uma casa era construída por dia. Quem passou dois ou três meses sem vir a Esteio, tinha sempre um movimento de surpresa, tal era a rapidez com que novos telhados iam se sucedendo e pintando de vermelho a ondulação das terras desta outrora fazenda do velho Serafim de Vargas.
 
O maior impulso veio, entretanto, das fábricas que foram surgindo para explorar as mais variadas indústrias e operários foram sendo atraídos dos municípios vizinhos, pois aqui encontravam meios de empregar sua atividade em trabalho bem remunerado.

E hoje, apenas oito anos transcorridos, aí temos o Esteio, com uma densidade de população que já atingiu a vários milhares e todos vivem modesta, porém fartamente, pois trabalho não falta a todos que querem viver honestamente à custa do seu suor, homens, mulheres, grandes e pequenos, pois há trabalho para todos, na medida de sua fôrça de vontade, de suas aptidões.

Na recente exposição aqui realizada, graças aos esforços do digno sub-prefeito Sr. Jorge de Souza Morais, vimos do que é capaz um povo que quer viver à custa do trabalho honrado.

As chaminés fumegam; as máquinas se movimentam acionadas pela usina da Tóca; produtos, os mais variados, entram nos mercados do país e Esteio marcha a passos agigantados para um futuro promissor, pois que o seu progresso deixou de ser uma esperança para se tornar formosa realidade.

O ilustre prefeito municipal Sr. Coronel Theodomiro Pôrto da Fonseca, disse em patriótica oração, quando foi inaugurado o nosso altar da Pátria: “Esteio, hoje vila, amanhã cidade, e, município que em tempo não distante, formará entre as comunas do Rio Grande do Sul.


Assim vaticinou o operoso prefeito, assim sucederá em tempos que não estão longe dos dias que correm, pois o evolver progressivo de Esteio é um garante para a efetivação de tão bela profecia.

A todos que têm contribuído com o seu trabalho honrado, com esse esforço que jamais conheceu esmorecimento, para chegarmos ao estado de adiantamento já alcançado, àqueles que continuam valentemente no labor de todos os dias para que cheguemos à meta colimada, aos obreiros da grandeza de Esteio, louvores sem par, e que continuem na prática desses exemplos que tanto honram a si e a terra para a qual abriram os olhos ao sol da vida.




A futura cidade de Esteio numa breve estatística – em 1944

Em 15 de março de 1944, Esteio contava com 15 escolas, 1.185 crianças, 5.504 habitantes, 30 indústrias diversas, 30 casas de secos e molhados, 9 baars, 7 mercadinhos, 1 farmácia, 11 barbearias, 3 pensões, 3 açougues, 2 ferrarias, 3 padarias, 2 olarias, 2 aviários, 4 salões de baile, 2 alfaiatarias, 3 eletricistas, 2 funilarias,, 2 depósitos de madeiras, 3 fábricas de esquadrias, 5 granjas de arrôz, 1 agência telefônica, 2 canchas de bolão, 1 agência de correio, 2 advogados, 2 enfermeiros, 2 oficinas mecânicas, 2 quinta de árvores, 2 sociedades recreativas, 1 cinema, 6 igrejas de diversos cultos, Igreja matriz, em construção, 4 parteiras, 2 médicos, 2 pedreiras de grés, 2 pedreiras de granito, 2 dentistas, 2 serrarias, 3 pintores, 24 pedreiros, 5 construtores, 1 secador de arroz, 60 carroças comerciais, 18 autos, 44 bicicletas, 25 carrinhos, 17 caminhões de transporte, 36 carretas de lavoura, 46 carroças de frete, 1 haras.

Capital registrado: 13.000.000,00. Arrecadação do distrito: 574.957,70.

Extraído da “Monografia da Vila Esteio” – 14 de março de 1944
Editada por José Thomaz Perez.

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