domingo, 21 de agosto de 2011

O Esteio do Rio Grande e do Brasil...

Município de Esteio - 1960

Há 56 anos é a cidade do trabalho e do progresso, um exemplo de civismo e de valor.

Nasci em Esteio, há muito tempo atrás, quatro anos depois de a Vila Esteio ser elevada a distrito de São Leopoldo. Tudo era precário e pouco ou quase nenhuma diferença havia em relação os demais distritos da região, mas, nos últimos anos, importantes melhoramentos foram introduzidos, não só nesta cidade, como em todo Vale dos Sinos. Naquela época as ruas eram acanhadas. Eram exceção as mais centrais como a Rua São Leopoldo (“A Faixinha”, atual Av. Presidente Vargas), e a Rua Quatro de Agosto (atual Rua 24 de Agosto), as Ruas  Soledade e Dom Pedro, passando pelas Ruas Arnaldo Bard  (atual Av.Padre Claret), Frederico Von Boch (Ex-Rua Cordeiro de Farias (atual Rua José Machado Lópes), São Lourenço (atual Rua Pedro Lerbach), Bagé (atual Rua Padre Felipe), Santa Cruz (atual Rua Fernando Ferrari), onde viviam os esteienses e aí terminava o mapa e a zona urbana do distrito. Muito tempo depois construíram a Rua Camaquã (atual Av. Senador Salgado Filho). A grande maioria das ruas  não tinha calçamento e, se o tinha, como a Rua Camaquã e a Rua Quatro de Agosto, era apenas numa estreita faixa das suas partes centrais. As demais eram de barro, com muita lama no inverno e poeira no verão. A cidade, por sua vez, limitava-se, praticamente, entre a estrada da Rodovia (atual BR 116), ao Oeste, a Rua Jacarandá (atual Av. João Neves da Fontoura), ao Leste, a Rua Soledade, ao Norte e a Rua Dom Pedro, ao Sul. Além do que descrevi, tudo o mais eram áreas rurais, com casas espaças, em ruas ainda em formação.

   Com relação aos serviços urbanos, Esteio dispunha-se, de quase nada, a água era captada em poços. Na praça da “Caixa d’água” da parada 19 e da Bandeira (atual Irmão Egídio Justo), a água era distribuída à população em torneiras públicas, também sem qualquer tratamento, e isso – diga-se de passagem - apenas para um pequeno número de residências que existia.  A água do Rio dos Sinos, arroios e açudes era limpa e cristalina, peixes era o que não faltava.  A iluminação pública era limitada a poucos postes e com lâmpadas de 100 velas, por conta da Força e Luz ou Light and Power, depois, encampada pelo governador Brizola que fundou a CEEE. O transporte coletivo também era precaríssimo e por conta da Empresa Amador, do seu Amador dos Santos Fernandes. Depois chegaram dois ônibus para linhas urbanas (lembram do seu Julinho, o chofer?) do seu Hélio, que também era o proprietário da Sociedade Avenida “O Ponto Chic” (atual Tumelero). Tínhamos para diversão o Cine-Teatro Imperial, os Clubes Aliança, Comércio, “Pau no Meio”, Cruz Maltina e Marechal Rondon. Entre os  esportivos destacamos o 11 Esteiense,  Madureira,  Internacionalzinho e o Agrimer. Na esquina da Arnaldo Bard (atual parada 15) onde existe um posto de combustível, era a sede do Circulo Operário Esteiense que auxiliava a comunidade. A associação entregava a construção do Hospital São Camilo ao poder público concluir e administrar. Os médicos mais conhecidos eram o Dr. Eduardo Duarte, o jovem Dr. Paulo Borges, que reside no centro da cidade, o Dr.”Oséias” e o Dr. Ervino (já falecidos). Entre as empresas que ainda me lembro destaco a Samrig, Três Portos-fábrica de papel, Banco Industrial e Comercial do Sul - antigo Banco Pfeiffer, Fundição Esteio do Adolf Wolff, Fábrica de Tesouras, Metais, e Graxa Patente Atlas, a Solange na Rua Caí, J. Pauluzzi – fábrica de telhas e tijolos, a Electro-Chímicas - Fábrica de Sulfato, a carpintaria do Friedo Haack, a Casa Funerária Weber, entre outras. 


Vila Esteio distrito de São Leopoldo - 1944.

   Até os anos 50, para se ir ao aeroporto São João (atual Salgado Filho), localizado, na época, num dos bairros de Porto Alegre, dispunha-se de duas opções: Trem da Viação Férrea, “Maria Fumaça” ou os ônibus da linha circular (marca Aclos) da Empresa Central de transporte coletivo que mais chovia dentro do que fora e dificilmente se chegava na capital sem fazer uma ou duas baldeações. Essa situação só veio melhorar no final dos anos 60, com o surgimento de alguns veículos mais “novos” da Empresa (Lembra do seu João Carlos, o chofer?). Muito antes, um número bem pequeno de veículos velhos e importados circulava pela Vila Esteio, alguns construídos com o aproveitamento de partes de outras viaturas, pelos mecânicos, que também consertavam tratores e implementos agrícolas, na grande maioria, dirigidos por motoristas sem habilitação, não obstante com larga experiência no volante, da mesma forma que os próprios veículos, como a maioria que circulavam no distrito, não possuíam o competente registro. Essa situação só veio se regularizar com a instalação do município, mas muito tempo depois da sua emancipação.

    Na Vila Esteio, em 1944, segundo registros, existiam 15 escolas e as casas dos professores que ensinava um pequeno grupo de crianças eram consideradas “aulas isoladas”. Entre elas, existiam as aulas isoladas Scharlau, Ramires e Julio de Castilhos - turno dia e noite, além do Grupo Escolar do Estado e Municipal Bento Gonçalves, Escolas Serafim Pereira de Vargas, Adventista, Luterana São João, Jardim da Infância e o Exército da Salvação - para meninos e meninas, todos com grande freqüência escolar e ainda não se falava em “Cidade Educadora”, mas Esteio contava com 5.504 habitantes, sendo que 1.185 eram crianças que na sua grande maioria freqüentava os bancos escolares.

   Conforme uma breve estatística a Vila Esteio, em 1944, contava com 30 indústrias, 30 armazéns de secos & molhados, 9 bares, 7 mercadinhos, 1 farmácia, 11 barbearias, 3 pensões, 3 açougues, 2 ferrarias, 2 padarias, 2 olarias, 2 aviários, 4 salões de baile, 2 alfaiatarias, 3 eletricistas, 2 funilarias, 2 depósitos de madeiras, 3 fábricas de esquadrias,, 5 granjas de arroz, 1 agência telefônica, 2 canchas de bolão, 1 agência de correio, 2 advogados, 2 enfermeiras, 2 oficinas mecânicas, 2 quintas de árvores, 3 sociedades recreativas, 1 cinema, 7 igrejas diversas (1 Seminário - incluindo a matriz Católica em construção), 4 parteiras, 3 médicos, 2 pedreiras de grês, 2 pedreiras de granito, 2 dentistas, 2 serrarias, 3 pintores, 24 pedreiros, 5 construtores, 1 secador de arroz, 18 automóveis, 44 bicicletas, 25 carrinhos, 17 caminhões, 36 carretas de lavoura, 46 carroças de frete, 60 carroças comerciais e 1 haras.


Vila Esteio distrito de São Leopoldo - 1944.
   Vários anos se passaram sem que, todavia, houvesse qualquer tipo de melhoramento no aspecto urbanístico da cidade, que só experimentou alguma mudança, assim mesmo muito timidamente, na gestão do prefeito Luiz Alécio Frainer, primeiro prefeito de Esteio, quando se deu a construção de pontes, a abertura de novas ruas, o alargamento e regularização de outras.

   No início da década de 60 a população crescia, no entanto, a uma taxa nunca imaginada, ao mesmo tempo em que o êxodo rural, provocado pela chegada da modernidade, causava uma verdadeira inchação da cidade, com a ocupação irregular e desordenada da sua periferia pelos grandes contingentes de egressos das cidades do interior do Estado que, diariamente, chegavam a Esteio em busca de trabalho na Cia. de Cimento Gaúcho, Brasilit, Artefina, Sulfato e fábrica de papel e Lansul de Sapucaia, 7° Distrito de São Leopoldo.  O surgimento dos conjuntos habitacionais inicia na década seguinte, por outro lado, passaram, rapidamente, a ocupar grandes áreas, que antes eram pastos e foram transformados em ruas, fazendo com que a cidade se alastrasse em todas as suas direções. A vida das pessoas, contudo, só se deteriorava, enquanto o sentimento de amor à terra parecia não mais existir. Esteio era, enfim, uma cidade mal estruturada, sem nenhum encanto e onde as pessoas começavam a não se sentir bem. Os políticos se sucediam nos cargos, empresas se estabeleciam, os terrenos baldios eram ocupados com novas construções e a cidadezinha sossegada e tranqüila, caminhava a passos rápidos e largos para o progresso e a poluição ambiental. E graças às grandes transformações introduzidas pelo primeiro sub-prefeito Jorge de Souza Moraes e, com muita competência, continuadas por seus sucessores eleitos; Luiz Frainer (com 102 anos que atualmente reside no litoral). Galvani Guedes, Adão Johann, Clodovino Soares, Pio Germano (já falecidos), Enéas Buscari, Lizandro Araújo, Getúlio Fontoura, Vanderlan Vasconselos, Sandra Silveira e agora Gilmar Rinaldi, eleito com a esperança da comunidade esteiense por dias melhores, o município tem, hoje, mal o bem, foros de uma cidade verdadeiramente moderna, com todos os benefícios e seus problemas; praças mal cuidadas e jardins mal ornamentados, que poderiam revigorar e embelezar a cidade, dando mais condições de lazer e bem-estar para o povo. As estradas, ruas e avenidas, por sua vez, além de uma antiga pavimentação cheia de buracos, mal conservadas, na sua maioria foram bem estruturadas, empresas que oferecem emprego, contribuem para os cofres públicos e poluem a terra, ar e água em nome do progresso. Esteio (não é por acaso este nome), aos olhos de quem ama este lugar, ainda é uma cidade boa de morar, com grandes atrativos, não deixando a desejar, em relação a muitas outras cidades do Estado. Olhando para o passado a população ordeira e trabalhadora, na sua grande maioria, finalmente, tem do que se orgulhar, além de motivos para ter o seu sentimento de amor à terra revigorado, com reflexos altamente positivos na sua própria auto-estima, o que me leva a dizer que o nosso Esteio, do Rio Grande e do Brasil, apesar de todos os percalços, em 56 anos de vida rejuvenesceu a cada dia, enquanto eu, só envelheci.



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