terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Qual é a origem do nome Esteio?

“Esta é uma interrogação que a nós mesmos temos feito, inúmeras vezes, e, por mais que pesquisamos, não encontramos até hoje (15 de março de 1944) resposta que nos satisfaça.”

Coronel José Pereira de Vargas Firmo -  Esteio 1944.

Qual é a origem do nosso topônimo?

   Como verá em outro lugar desta monografia, as terras que hoje compreendem os lides da nossa vila, pertenceram outrora à sesmaria conferida à Francisco Pinto Bandeira, pai de Rafael, o grande fronteiro.

   Por sucessão, passaram à propriedade deste e, posteriormente, à sua viúva, casada em segundas núpcias com o Desembargador Bragança. Daí o ser conhecido até hoje a parte da estrada que assinala a divisa São Leopoldo - Canoas como Volta da Brigadeira.

   Mas, e Esteio? Pois bem, a nossa vila compreende a fazenda adquirida à sucessão Serafim Pereira de Vargas, sendo que este foi seu proprietário  e aqui viveu longa existência, tendo falecido em 20 de julho de 1916.


Fazenda do Esteio - O velho solar do Cel. Serafim Pereira de Vargas - 1934

A casa da Velha Fazenda, já modificada pelo seu atual proprietário Pedro Schuck - 1944
  Serafim de Vargas, adquirindo frações de campo a vários proprietários, constituiu a fazenda que compreendia para mais de quinze milhões de metros quadrados; povoou-a  com números de rezes vacuns que ultrapassa a mais de dois mil, isto sem contar as espécies cavalares e suínas. Sua residência, a velha casa solarenga, substituiu até bem pouco tempo, sendo demolida para dar lugar a uma nova construção, a residência do Sr. Pedro Schuck, atual proprietário de uma parte da velha fazenda.

   E foi nessa casa que viveu o então coronel Serafim Pereira de Vargas, que foi homem de grande influência, acatado e respeitado chefe político conservador, cuja figura e ainda nos dias de hoje relembrada com veneração pelos que com ele privaram e sobrevivem de um tempo que se vai perdendo nas brumas de um passado longínquo.

   Em Sapucaia vive seu único filho, o coronel João Pereira de Vargas Firmo, de quem colhemos algumas informações interessantes para reconstituir a vida do Esteio.

   Foram donos destas terras, precedendo o coronel Serafim, Tomé Luiz de Vargas, Manoel José da Silveira (Maneca Serafim), Firmino José Gomes, e outros, cujos nomes escapam à memória do nosso informante.

Residência do Cel. José Pereira de Vargas Firmo.

Casa de residência de Pedro Schuck, construida em dezembro de 1943.

   A fazenda assim constituída tinha por limites, ao Norte com terras de Manoel José da Silveira , ao Sul pelo Arroio Sapucaia, a Leste com Felisbino Nunes Mesquita, e a Oeste com o Rio dos Sinos.  Povoada, como dissemos, três rodeios eram parados periodicamente, o que atesta a excelência das pastagens das terras hoje cortadas pelas ruas e avenidas da vila.

   Em 1873 foi traçada, como sabemos, a Estrada de Ferro Porto Alegre - Novo Hamburgo e esse traçado cortou a fazenda em toda a sua extensão. E a propósito, contou-nos o coronel Janjão, um episódio que bem interessante é, que se enquadra neste retrospecto que fazemos ao passado de Esteio.

   Quando consultado sobre a passagem da estrada sobre suas terras, o coronel Serafim de Vargas, contrastando com a resolução de outros proprietários, declinou de qualquer indenização a que tinha direito, exigindo apenas que a companhia que exploraria a estrada mantivesse duas cancelas, às suas expensas, afim de facilitar o bebedouro do gado. Assim foi assentado; entretanto, estabelecido o corredor, a companhia mandou a chave das citadas cancelas para que o dono da fazenda mantivesse um empregado efetivo para dar passagem aos trens; com essa arbitrária resolução não esteve de acordo o coronel Serafim que, por intermédio de um advogado, propôs uma ação contra a companhia.

    .A demanda durou alguns anos, sendo, afinal, decidida no então Tribunal de Relação, com ganho de causa para o coronel Serafim. Era desembargador na época, o dr. Paulino Chaves, conhecido magistrado que, sem heresia lembramos, tinha o apelido de Papa Perú.

Outro epsódio interessante, nessa movimentada questão, é que o advogado da companhia era o dr. Barcelos que, chefe conservador, tinha em Serafim Pereira de Vargas um ardoroso correligionário...

E esse fato fez com que o dr. Barcelos incorresse em acre censura de sua esposa, apaixonada da política de seu marido, que lhe dirigiu certa vez, diante de extranhos, a seguinte interrogação: - “Doutor (assim ela sempre se dirigia a seu esposo), si tu não aceitasse essa causa nós morreríamos de fome?”


Mapa da Villa do Esteio - 1944:



É tempo de chegarmos a terno. Esteio, a nosso ver, teve o seu nome de batismo com a vinda da Estrada de Ferro. No local onde assenta a atual estação, local situado entre as duas pontes atuais, deve ter existido, forçosamente, um esteio, talvez um lugar de marcação de animais, e por isso esse local chamava-se Esteio. Com a estrada de ferro, ali foi estabelecida uma parada – a parada do Esteio, como todos nas estamos lembrados. E Esteio ficou para a vila de hoje, a cuja elevação de categoria estamos celebrando, honrosa conquista alcançada pelo trabalho profícuo de uma inteira população.

Extraído da “Monografia da Villa do Esteio”  Editada em 14 de março de 1944 – por José Thomaz Perez

Nenhum comentário: