História da Villa do Esteio em 1944
Dr. Eduardo Duarte
Eduardo Duarte perdeu inteiramente aquele colorido antigo de historiados e de educacionista, de médico e de psicólogo, para se integrar numa apoteose de símbolo. A consagração pública é soberana e tudo se opera imperceptivelmente de tal modo e acerto que é a única fôrça que não carece de leis para ser justa.
Na proporção que os anos foram se multiplicando e consumindo a vida, a maturidade de Eduardo Duarte se avolumou numa obra de pura inteligência votada à história e aos velhos documentos emocionais.
Fôra um trabalho silencioso, quieto, beneditino, ao redor de arquivos esquecidos, de papéis rotos, de laudas amarelecidas pelo tempo, interpretando e lendo idéias e caligrafias de um passado cheio de glórias, no propósito patriótico de determinar a essência de uma nova história, polida e perfeita.
Se o talento foi posto à prova em diversos setores do saber humano, indubitavelmente foi diante da história que sua vida mais se consumiu, onde seu coração, vezes sem conta, palpitou, numa religiosidade de prece.
Tornou-se assim um escravo fidalgo das letras históricas. Fascinado pelos acontecimentos do pretérito, Eduardo Duarte fez desses estudos um hábito sacerdotal de límpido e devotado amor.
Creou uma mística. Deu-lhe substância e sua conduta foi sempre glorificada por essa mística de profundeza incalculável.
Um dia o destino andou de rusgas com Eduardo Duarte e desse imprevisto o historiador abandonou a vida pública para entregar-se unicamente à carreira profissional. Andou ausente, visitando lugarejos da sua afastada mocidade, até que um dia ele fixou-se na Vila Esteio, centro, que se destaca por um alto padrão de trabalho.
Êsse lugar, pequenino, belo e saudável, cresceu, faz-se notável. A indústria tornou-se grande, com foros de labor honrado. São turbinas, dínamos, uma mecânica aperfeiçoada e mais o braço do homem amparado pela virtude de um senso de prosperidade invejável, de um senso de prosperidade invejável, que dão alegria adolescente à Vila do Esteio.
Mas o que significaria essa materialidade, esse sentido nervoso de riqueza econômica, trabalho concentrado, se não houvesse nenhum vestígio de humanismo, de espiritualidade de beleza moral?
Eduardo Duarte é, nesse centro de atividades dinâmicas, a pureza essencial do espiritualismo, coração e idéia, intelectualidade e estesía, todo um imenso panorama de realizações morais, atividades, de alto pensamento, idéias erigidas em arte.
Nisso está uma grande gota de harmonia, o equilíbrio dos elementos de subjetivos na ordem social onde a vida para ser completa, necessita um pouco de beleza integral, que é o oxigênio das espiritualidades coletivas.
Eduardo Duarte é uma manifestação eternamente moça mesmo diante das fatalidades biológicas. Seu mundo interior é uma permanente alvorada de alegrias e músicas verbais. Basta isto para justificar o modo com que ele se identifica ao meio num arrebatamento de juventude.
O Dr. Eduardo Duarte, sua exma. esposa, filha e netos |
Quando um dia, a história da futura cidade do Esteio for escrita, Eduardo Duarte há de pontificar o primeiro capítulo como sendo o elemento mais destacado pelo amor que lhe dedicou e pelo influxo que irradiou seu espírito e sua cultura. É que ele representa admiravelmente toda a expressão moral de uma geração de raras virtudes que passou. O intelectual que assimila e estuda os problemas sociais e vai dando curso de larga extensão aos fenômenos que a sensibilidade grupal carece para um melhor e mais feliz convívio, é um precioso caráter, merecedor de todos os aplausos públicos.
Nesse binômio com que é formado o meio social da Vila do Esteio, ele representa o espírito fortalecendo o braço do trabalhador, o coração no milagre do isocronismo da vida sentimental, toda a grande bondade em fase da energia criadora de riquezas. É ainda a estabilidade de duas fôrças iguais, dois termos que se completam, um positivo, outro na sua evidência abstrata, mas poderosamente fecunda.
Casa de residência do Dr. Eduardo Duarte, conhecido historiador patrício. |
Eduardo Duarte, no seu mistér profissional, vive a socorrer enfermos. É ainda escritor e historiador, educacionista e deliberadamente cristão. Êle é amigo afetivo e decidido homem de trabalho, conhecendo a humanidade, seus defeitos e suas virtudes, suas fraquezas, e seus valores, por isso sabe perdoar, sabe ser dócil e sabe ser bom. Nesse rítimo, Eduardo Duarte já atingiu uma idade que vai além da maturidade.
Uma afirmação moral, íntegro na sua grandiosa bondade.
Hoje ele é símbolo. Símbolo de cultura e de riquezas espirituais.
Texto de Olinto Sanmartin e fotos extraídos da “Monografia da Vila Esteio” , editada no dia 15 de março de 1944.
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