Os ritos funerários para o enterro do Sérgio da Silva Lima para muitos foram momentos de introspecção, melancolia e aflição.
O músico Sérgio Lima atuava compondo, tocando violão e cantando na noite esteiense. |
A “Pompa Fúnebre” em sua homenagem foi transformada em despedida, ou melhor, uma preparação para a grande viagem de sua alma e o “Serviço Fúnebre” realizou-se sem ostentação, magnificência, grandeza ou suntuosidade, representando a simplicidade, generosidade e a modéstia de uma pessoa afetuosa e participativa que viveu, recusando-se a aceitar a notoriedade que, por mérito, sempre desfrutou entre seus amigos mais íntimos.
Serginho sofreu uma parada cardíaca no local de trabalho |
Conhecido empresário no ramo de troféus, medalhas, placas comemorativas, artigos para presentes, fechaduras e chaves, iniciou suas atividades profissionais na Avenida Padre Claret, depois se transferiu para Rua Garibaldi e há 23 anos estava estabelecido na Avenida Presidente Vargas, defronte a Loja Tumelero, na área central de Esteio. Como músico atuava compondo, tocando violão e cantando na noite esteiense. Participou de inúmeros eventos musicais e foi membro de duas escolas iniciáticas. Deixou sua companheira Janice e cinco filhos; Mirane, Jam, Neissi, Ananda e Jade.
Ao chegar à capela “B” do Cemitério Municipal 2 de Novembro, em Esteio, no dia 22, ele já estava lá, dentro de um esquife, próximo de seus familiares e amigos, entre luzes (não se costuma usar velas por aqui), vasos e coroas de flores. Fiquei ali parado observando quão incerta é a vida.
Segundo ensinamentos milenares da Ciência Espiritual e apesar das incessantes advertências da morte e das contínuas provas de seu formidável e implacável domínio sobre os desígnios Divinos em manifestação na vida material, nascemos e crescemos condicionados de que somos filhos da morte, nascemos e vamos morrer. Vivemos de esperanças e traçamos inúmeros planos durante a nossa vida, mas quando menos esperamos somos surpreendidos pela morte e, quase sempre, quando ainda não havíamos realizados nossos sonhos.
Mas, fiquei pensando; não é isto que diz o “Livro da Lei” no Salmo 133: “Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união...”, e finaliza dizendo: “porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre.” Imaginei que o A-Mor (A= negação, Mor= morte), quer dizer – sem morte - viver eternamente, ou seja; através da “Arte dos Reis”, sutilizando o corpo físico, que será abandonado e voltará para o pó de onde foi tirado e cristalizando, com todas as experiências da Sabedoria, o corpo espiritual volta com Luz própria para Deus de onde veio, ou seja; “E o pó volte à Terra como era, e o espírito Volte a Deus que o deu”.
"Vivemos de esperanças e traçamos inúmeros planos durante a nossa vida, mas quando menos esperamos somos surpreendidos pela morte, às vezes, quando ainda não havíamos realizados nossos sonhos." |
Frater Marco Burgo - MI - 28/9/1978 |
Durante a Cerimônia do Serviço Fúnebre, em minha imaginação, se passaram lembranças das palavras que ouvi do primeiro Vigilante na Loja Minerva, nos anos 1980, no prédio central do Grande Oriente do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, durante a Pompa Fúnebre e despedida do meu grande amigo e irmão Marco Burgo de saudosa memória. Disse o Mestre Oficiante: “- Que são o fausto do poder, a honra da ciência, o brilho da virtude, o orgulho da riqueza, os encantos da formosura, no momento de pagarmos o tributo contraído com a Natureza?”.
Fiquei paralisado quando ele apontou para o cadáver do Marco Burgo que estava no esquife e disse:
“- Vede o que é a vida. Todas as classes se nivelam, todas as distinções desaparecem como o fumo que se dissipa com o vento. Nada mais resta se não as boas ações praticadas...”, complementando: “Que este exemplo nos sirva de poderoso estímulo no caminho da virtude, para que nele prossigamos sempre com fé e resignação”. Foi uma inesquecível e grande lição!
Logo apos, amigos, familiares e irmãos presentes na capela, ”B” assistiram um comovente e inesquecível Serviço Fúnebre, realizado por irmãos de boa vontade, alguns Obreiros da Luz, que prestaram a última homenagem, de corpo presente, aquele que tanto colaborou com a Instituição que pertenceu. Naquele momento lembrei-me de uma velha lição que aprendera em 1980, quando o professor disse: “Nenhum bom irmão pode ser enterrado, sem as formalidades da Fraternidade, a não ser por sua própria vontade ou de algum familiar”.
Durante o cerimonial ritualístico aquele “insight” dos anos 80 voltou, e um vigilante que estava em primeiro lugar, com muita sabedoria disse: “Havendo-se servido o Supremo Artífice, em sua bondade infinita, retirou nosso querido irmão das penas e cuidados desta vida para levá-lo a uma existência eterna, enfraqueceu-se a corrente que nos unia; mas os que a ele sobreviveram devem ser elos fortes e perseverantes em reforçar os sublimes vínculos da nossa Instituição”. Neste mesmo instante olhei para os familiares do Sérgio Lima e seus amigos presentes, observando e sentindo a dor que estavam passando. Lembrei-me também dos amigos e irmãos; Marco Burgo, Roberto Bourdette, Domingos Rubo, Moab Caldas, Amadeu Favila, João Carlos Miranda, Atílio dos Santos... além de muitos outros que passaram pela mesma situação deixando ensinamentos e lembranças inesquecíveis, antes de partirem para o Oriente Eterno.
No momento seguinte o Venerável Mestre que estava presente as exéquias, fez uso da palavra dizendo:
“– Tomarás à terra da qual foste formado. Do pó nascestes, em pó te converterás. Na tumba depositamos teu corpo, enquanto tua alma se evola ao infinito. Digna-te, Ó Grande Arquiteto do Universo, digna-te, em tua imperscrutável misericórdia, determinar que sua alma imortal goze da glória perdurável que ofereces aos bons e aos justos desde o princípio dos séculos”.
Sérgio Lima passou para o Oriente Eterno, exatamente no período do seu “Inferno Zodiacal” |
No final, cada um dos seus amigos e irmãos, cuja morte deplora, reunidos em círculos e depois de três voltas em torno do ataúde, de acordo com a tradição, depositou ramos de acácias em cima do cadáver daquele ente querido, oferecendo à sua memória uma última prova de amor fraternal, por compreender que ninguém escapa à lei fatal do aniquilamento físico da matéria. E, vale lembrar que a Ordem Maior Justa e Perfeita sempre lhe ensinou que todos buscam sabedoria, fama e glória que são bens que podem perdurar. E aos buscadores de poder, riquezas e outros bens materiais, ela avisou que eles não passam a porta da Eternidade.
Assim como estava acontecendo aqui em Esteio, no meu “insight”, todos que participaram da Pompa Fúnebre do Marco Burgo fizeram uma peregrinação em torno do corpo do falecido. Executaram três voltas, em passos lentos (lá arrastando os pés), em torno do esquife, depois depositaram nele os ramos de acácia que cada um carregava nas mãos. Por último, aqui no cemitério 2 de novembro, atendendo aos convites, entrei no circulo e também depositei o ramo que recebi de um bom irmão. Aquela acácia me fez recordar a sobrevivência da alma após a nossa morte aparente. Quando a fé e a esperança necessitam da caridade ou do A-Mor para devolver a vida consciente e integral para a Eternidade. Eis o grande segredo da Arte-Real!
Logo após, foi dito pelo orador que Deus, o Grande Arquiteto dos Universos é o nosso juiz e nosso guia e que Ele dá a vida aos mundos com um sopro da sua onipotência e, que sem a sua vontade o universo seria trevas e caos. Em seguida, foi solicitado para que Ele ensine o caminho da virtude em todos os instantes da nossa vida errante e que dê a todos forças para perssegui-lo com resignação. Então, aqui no Serviço Fúnebre, como no meu “insight” lá na Pompa Fúnebre, formou-se uma cadeia ou corrente de união, com pessoas de mãos dadas, que foi rompida ao um sinal dado por alguém.
O Venerável Mestre que dirigia a cerimônia, disse; “– Rompeste, Senhor, a cadeia que nos unia; bendiz a nova que formamos (então, todos deram as mãos e a cadeia ou corrente fechou-se novamente), para que possamos continuar unidos em tua honra e glória em nosso peregrinar pelo mundo afim de cumprir os Vossos desígnios”.
Todos ficaram por alguns minutos no mais profundo e puro silêncio, refletindo sobre o nascimento do irmão morto, a força da vida que ele viveu entre nós, até o seu último suspiro, esperando que sua morte possa nos ensinar e nos preparar para que limpos e puros, justos e perfeitos, possamos viver na Divina Eternidade.
“Havendo-se servido o Supremo Artífice, em sua bondade infinita, retirou nosso querido irmão das penas e cuidados desta vida para levá-lo a uma existência eterna..." |
Fiquei imaginando os ensinamentos da Ciência Espiritual afirmando que da mesma forma que um ser humano se despe das roupas velhas e veste novas roupas, assim também o espírito que se manifesta na vida material, um dia despe-se do velho corpo físico e passa para outros e novos corpos nos planos espirituais.
Enquanto meditava na presença do irmão falecido, imaginei que ele poderia estar cobrando de si mesmo por qualquer falha que por ventura houvesse acontecido durante os seus 59 anos. Afinal, ninguém é perfeito e ele, com certeza sabia disso. Mas se houveram, seus irmãos cobriram possíveis falhas com o grande manto de compreensão, perdão, misericórdia e caridade. Em momento algum não privaram sua memória dos elogios que suas virtudes clamam em suas mãos.
Segundo ensinamentos da Ordem Maior Justa e Perfeita, a perfeição do ser humano durante sua manifestação na matéria é inalcançável e os mais sábios como também os melhores têm plena consciência de que todos os seres humanos, em algum momento da vida, perderam o verdadeiro caminho.
Aos seus parentes e amigos mais próximos que estão desolados com a perda que também temos suportado nestas horas de aflição, suplicamos para que o Pai Celestial autor de tudo que é bom e doador de toda a bondade abra seus braços protegendo com amor a todos que Nele depositarem confiança.
Desejo a todos três abraços fraternos daquele nosso antigo jeito.
Pax domini sit semper nobiscum
(ISHO – Eto. O menor dos filhos da viúva)
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