O desinteresse de algumas administrações municipais esteienses em reativar o único cinema da cidade e o descaso com a aparelhagem doada pelo Grupo UNIBANCO, desincentiva futuras doações para a cultura
Há mais de 12 anos inativo, o Cinema da Casa de Cultura de Esteio, que em 1976, era um dos principais pontos de lazer e cultura dos alunos das escolas municipais, estaduais e moradores do município foi fechado e pelo que parece não vai ser reaberto tão cedo. Para os antigos freqüentadores, ainda não morreu a esperança de assistir filmes cinematográficos na cidade o que para eles representa uma parcela do renascimento cultural.
Durante a administração do prefeito Clodovino Soares foi idealizada e construída a Casa Municipal de Cultura Lufredina de Araújo Gaya, mas a inauguração do cinema aconteceu somente no início do ano de 1976, quase no final da administração do prefeito Getúlio Lemes Fontoura com o filme Quatrilho, uma película da Paramount, dirigida por Fábio Barreto que conta a história acontecida no Rio Grande do Sul, em 1910. Em uma comunidade rural composta por imigrantes italianos, dois casais muito amigos se unem para poder sobreviver e decidem morar na mesma casa. Mas o tempo faz com que a esposa (Patricia Pillar) de um (Alexandre Paternost) se interesse pelo marido (Bruno Campos) da outra (Glória Pires), sendo correspondida. Após algum tempo, os dois amantes decidem fugir e recomeçar outra vida, deixando para trás seus parceiros, que viverão uma experiência dramática e constrangedora, mas nem por isto desprovida de romance.
O mérito da inauguração do cinema na Casa Municipal de Cultura foi exclusivamente do esforço e dedicação do senhor Alécio Emílio Frainer, antigo morador de Esteio, com mais de 30 anos de experiência no ramo cinematográfico, que atendendo um pedido do seu pai Luiz Alécio Frainer, primeiro prefeito de Esteio (que atualmente reside no litoral do Estado), na época, proprietário de dois cinemas na cidade: o Cine Imperial, fundado no dia 09/05/1942 e o Cine Palácio, fundado em 02/04/1960. Segundo Alécio Frainer seu pai solicitou que ele auxiliasse a municipalidade para que o cinema fosse instalado na nova Casa de Cultura em benefício da comunidade esteiense.
O tempo estava passando e o município não disponibilizava verbas para comprar um projetor para o funcionamento do cinema. Atendendo solicitação pessoal do amigo Alécio Frainer, Nestor Breicenbach, gerente regional do UNIBANCO/RS., disponibilizou 4 mil dólares a fim de colaborar na compra de um projetor cinematográfico para ser utilizado em benefício da comunidade esteiense. Na época, com o valor disponível, considerando o preço de mercado, não era possível comprar um aparelho profissional usado, mas com o auxílio dos amigos e diretores da Wenner e Columbia, na cidade de Telêmaco Borba, no interior do Estado do Paraná, foi adquirido o projetor que lamentavelmente está desativado, abandonado e avariado na nossa Casa de Cultura.
Na época, Valério proprietário do aparelho cinematográfico fechou um cinema porque o prédio foi vendido para uma instituição religiosa, reformou e modernizou o aparelho com um sistema de lâmpada xenon e "rolão". O valor de venda do projetor era 6 mil dólares e o Alécio Frainer comprometeu pagar mensalmente a diferença com seu salário que de R$500,00. No final das negociações Alécio foi dispensado por Valério que vendeu o projetor para o município pelo valor doado pelo UNIBANCO.
Graças ao antigo e bom relacionamento do Alécio Frainer com o pessoal que trabalha em cinema a aquisição do projetor e sua instalação na Casa de Cultura não custou um centavo para os cofres do município. Quando o cinema foi desativado, no início do ano de 1977, a afluência de pessoas para assistir as películas era muito grande. A equipe que coordenava o funcionamento do cinema apresentava espetáculos todas ás sextas-feiras, sábados e domingos à noite. Nas tardes de domingos, as crianças superlotavam as matinês.
Quando, por ordem do prefeito, o cinema encerrou suas atividades a programação cinematográfica já estava organizada para os próximos meses e o cinema contava com quase 8 mil reais de verbas próprias, disponível na rede bancária e Casa de Cultura apresentava entre seis a oito sessões de cinema semanais a disposição da comunidade. Além de trazer cultura e entretenimento aos esteienses o cinema municipal sempre deu lucro ou pelo menos mantinha sua manutenção com verbas próprias. Segundo Alécio Frainer: “Cinema é cultura e não faz o menor sentido parar”, disse na época.
Com o aumento da violência urbana, o surgimento da televisão, dos MPs 3, 4. 5.... e dos vídeos cassetes, os grandes cinemas em geral perderam forças, mas a maioria daqueles espectadores que assistiam filmes na Casa Municipal de Cultura Lufredina de Araújo Gaya, dizem que “o espaço embora fosse pequeno, mesmo assim foi considerado a maior atração da cidade”. Depois de fechado pela primeira vez, o cinema sofreu duas tentativas para iniciar novamente suas atividades, mas o cinema já estava começado a entrar em decadência.
De acordo com Alécio Emílio Frainer, na época responsável pelo cinema municipal, o fim das atividades cinematográficas foi uma grande perda para a população esteiense. "Todos gostavam de assistir filmes e desenhos animados no sofisticado prédio da Casa de Cultura, principalmente as crianças.” Segundo ele, pessoas de cidades vizinhas seguiam para Esteio nos fins de semana, somente para apreciar os filmes em lançamento no País. "A sala de cinema também ficava cheia de crianças durante a semana para assistir documentários, desenhos e filmes educativos, disse.
Alécio Frainer, filho de um dos pioneiros do cinema no Estado sempre foi um incentivador da sétima arte ao saber da mobilização de algumas pessoas para reabrir o cinema disse emocionado:“Para mim é uma emoção muito grande saber que existe a possibilidade do cinema da Casa de Cultura Municipal Lufredina de Araújo Gaya funcionar novamente. Quero assistir filmes lá muito em breve."
O funcionamento do Cinema em Esteio vai ser bom para a cultura da cidade, importante para todos, principalmente para os estudantes mais carentes das escolas municipais e estaduais que deverão ter entrada franca. A cobrança de ingressos para os demais espectadores deverá ser com preços populares, para democratizar o acesso ao cinema. E a programação cinematográfica deve contemplar tanto o público infantil, juvenil quanto o adulto.
A luta pela reabertura do cinema municipal na Casa de Cultura de Esteio, certamente vai mobilizar inúmeros movimentos culturais, estudantis, sociais da cidade, entre outros, para demarcar o espaço e não perder de vista o seu maior objetivo que é a reabertura urgente do cinema esteiense.
No momento, a campanha "Vamos reabrir o cinema Municipal de Esteio", apenas esta começando.
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